Choque Circulatório

Por ABLA Import / Quinta-Feira, 10 de Junho 2021 /
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Choque circulatório é determinado como uma série de alterações locais e sistêmicas que levam a incapacidade de perfusão tecidual, ou seja, não fornecimento de nutrientes e oxigênio para os tecidos, que causarão diversas disfunções no metabolismo.

O quadro é secundário a uma afecção, sendo uma consequência da patologia envolvida. Esse distúrbio deve ser tratado como uma emergência, pois pode acarretar danos irreparáveis ou até mesmo levar ao óbito.

Existem diversas causas que podem levar o animal ao choque, porém, a progressão ocorre de forma similar na maioria dos casos. Ele é classificado de acordo com a causa e seu principal mecanismo, tendo um propósito didático:

Hipovolêmico: Definido pela perda extra vascular de grande quantidade de sangue circulante, normalmente cerca de 30% do volume total, causando uma hipovolemia. Essa perda é gerada por:

  • ▪ Hemorragias externas e internas, resultado de traumas ou ruptura de órgãos;
  • ▪ Desidratação provocada por disfunção renal, diminuição na ingestão de agua, diarreia ou sudorese excessiva;
  • ▪ Perda de volume plasmático em casos de queimaduras de grande extensão e obstruções intestinais;
  • ▪ Falência adrenocortical, que gera perda de eletrólitos pela diminuição de aldosterona.

Cardiogênico: Gerado por uma disfunção cardíaca que impossibilita um débito cardíaco (volume de sangue sendo bombeado pelo coração por minuto) para manter as necessidades metabólicas. Essa disfunção pode se desenvolver por:

  • ▪ Cardiopatias, como arritmias e infarto agudo do miocárdio;
  • ▪ Traumatismos;
  • ▪ Dirofilariose.

Obstrutivo: É a obstrução de vasos sanguíneos na circulação sistêmica ou pulmonar, causada por:

  • ▪ Pneumotórax;
  • ▪ Tamponamento cardíaco;
  • ▪ Tromboembolismo pulmonar por coágulos sanguíneos ou agentes vasoconstritores;
  • ▪ Aneurisma por Strongylus Vulgaris.

Distributivo: Caracterizado pelo desequilíbrio do consumo tecidual e distribuição de oxigênio, pela variação de fluxo sanguíneo que causa uma vasodilatação e consequentemente fazendo com que alguns órgãos não tenha a perfusão necessária

  • ▪ Anafilaxia e fármacos vasodilatadores podem causar choque anafilático, que é um exemplo de choque distributivo, pela interação do antígeno com IgE que causa uma reação de hipersensibilidade tipo I;
  • ▪ Agentes infecciosos provocam vasodilatação, sequestro de líquidos e lesões celulares, que causam choque séptico;
  • ▪ Traumas cerebrais podem causar choque neurogênico.

O desequilíbrio gerado entre a necessidade fisiológica e a distribuição de nutrientes e o oxigênio para os órgãos é a primeira alteração para o desenvolvimento do quadro, desencadeando hipóxia, isquemia, produção inadequada de glicose e diversos mecanismos compensatórios, numa tentativa de reverter o choque. Esse desenvolvimento acontece em 3 fases:

  • 1. Fase Compensatória: nessa fase ocorre uma aceleração no metabolismo, ativação do sistema nervoso simpático através da liberação de catecolaminas (provoca vasoconstrição periférica e taquicardia), ativação do sistema renina angiotensina aldosterona (estimula a reabsorção de agua e eletrólitos, causando retenção de líquidos), liberação de ADH (auxilia no processo de reabsorção e gera um deslocamento de líquidos para o espaço intravascular).
  • 2. Fase descompensatória inicial: essas ações começam a se tornar deletérias ao organismo com o passar do tempo. Uma acidose metabólica é instalada, causando liberação de toxinas, produção de lactato, lesões celulares e enfraquecimento do miocárdio. Essas variações resultam em alterações pulmonares, renais e respiratórias.
  • 3. Fase compensatória final: quando o animal encontra-se nessa fase de progressão, o choque se torna um quadro quase irreversível. Há uma vasodilatação generalizada que consequentemente leva a síndrome da disfunção orgânica múltipla (SDOM), falência generalizada dos órgãos e óbito do paciente.

A sintomatologia apresentada pode variar conforme a idade do animal e o tipo de choque desenvolvido. Normalmente apresentam apatia ou alterações mentais, mucosas hipocoradas, congestas ou cianóticas, TPC aumentado, taquicardia, taquipnéia, hipotermia central ou periférica, oligúria, pulso fraco e rápido e hipotensão arterial.

Potros podem não ter o aumento da frequência cardíaca e o esfriamento das extremidades, dificultando por vezes o diagnóstico.

O diagnóstico deve ser feito por anamnese, exame físico e exames complementares, como hemogramas, leucogramas, proteína total, hemogasometria e lactato sérico.

A diferenciação dos tipos de choque pode ser feita através da avaliação dos parâmetros circulatórios e respiratórios conforme a tabela:

O tratamento deve priorizar a estabilizar o estado geral do paciente, curar a causa primaria e a partir disso definir as medidas pelo tipo de quadro estabelecido. O animal deve ser monitorado constantemente, por se tratar de um quadro dinâmico e grave.

Sempre consulte um médico veterinário de sua confiança para indicação e realização da melhor conduta para o caso especifico do animal acometido.

O prognostico está relacionado com o tempo levado para realizar o diagnóstico e iniciar o tratamento. Casos que são reconhecidos tardiamente podem desenvolver complicações significativas, como coagulação intravascular disseminada (CID) que pode ser manifestada como hemorragia ou tromboses, levando à um quadro de laminite aguda, síndrome da respiração inflamatória sistêmica (SRIS) e síndrome da angustia respiratória agua (SARA).

Mesmo com tratamento adequado muitos pacientes morrem nas primeiras 48 horas após o início do choque em decorrência da síndrome da resposta infamatória sistêmica (SRIS) e síndrome da disfunção orgânica múltipla (SDOM). (MARSON et al., 1998; MUIR, 1998)

O quadro de choque circulatório e seu desenvolvimento ainda necessitam ser estudados e relatados, principalmente em equinos, visto a escassa disponibilidade de referências encontradas para leitura. Se trata de uma afecção severa e de rápido agravamento, portanto, uma rápida identificação e instituição de tratamento possuem extrema importância para a recuperação do animal.

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