Tendões e ligamentos são estruturas de suporte do sistema locomotor, os tendões conectam o osso ao músculo, permitindo a movimentação da região a partir da contração e relaxamento muscular, enquanto os ligamentos são responsáveis por unir os ossos entre si, garantindo a estabilização da articulação. A incidência de patologias nessas do sistema locomotor é alta na rotina clínica, principalmente no ambiente esportivo, devido ao esforço excessivo sobre essas estruturas nobres.

As inflamações agudas nos tendões podem ser resolvidas a partir de tratamentos conservadores, que envolvem o uso de ligas, gelo, e medicamentos, já as inflamações crônicas são irreversíveis, afetando a qualidade de vida do animal. Em muitos casos, a desmotomia é utilizada como um último recurso de tratamento, para alívio da dor e melhora do quadro clínico. Ela consiste na ressecção de um ligamento a fim de direcionar uma proporção maior de carga sob o músculo, preservando o tendão. Tal procedimento também preserva a elasticidade do conjunto músculo-tendão, permitindo seu alongamento.

Escobro e Hussini (2014) descreveram o sucesso no tratamento de tendinites recidivantes através da desmotomia do ligamento acessório do Tendão Flexor Digital Superficial (TFDS) em três equinos atletas. Por outro lado, os estudos de Shoemaker et al. (1991) em peças de cadáveres equinos sugerem que esta técnica não é tão efetiva, por indicar que alterações biomecânicas aumentam a tensão sob o tendão. Porém, estes resultados são controversos, uma vez que não refletem uma condição in vivo.

Essa técnica cirúrgica é realizada conforme descrito por Auer e Stick (2011), após tricotomia e antissepsia adequadas na região. Outros tipos de desmotomia também podem ser realizadas para o tratamento de tendinites crônicas em equinos. A desmotomia do ligamento anular é indicada quando há algum impedimento na movimentação dos tendões flexores, e a desmotomia do ligamento acessório do Tendão Flexor Digital Profundo (TFDP) pode ser realizada quando ocorre inflamação crônica do tendão, aderência entre o ligamento e o tendão ou deformidade flexural.

Apesar de a desmotomia ser uma medida terapêutica consolidada no tratamento de inflamações crônicas das estruturas de sustentação em equinos, é importante ressaltar que esta técnica também pode ser utilizada para a correção de outras patologias. A desmotomia patelar medial é uma técnica difundida no meio equestre para a correção dos casos mais graves de fixação dorsal da patela. Apesar das possíveis complicações resultantes deste procedimento, tais como sinovites e instabilidade articular, este tratamento é considerado eficaz para eliminação dos sintomas de fixação dorsal da patela em equinos (Silva et al, 2004).